terça-feira, 14 de julho de 2009

Dammi da bere parole e mare

(título tão venusiano, este. verso de uma música da malika, mas não essa linkada aí embaixo; outra. mar aqui sendo o alimento do corpo, a comida e o sexo, e as palavras, bem, sendo palavras, como devem ser)

Mas não, as palavras quase nunca não são só palavras, e não por não serem, mas por não as deixarem ser. e isso me irrita de um tanto.

Lembrei agora de um namorado meu (nem namorado nem meu, mas enfim), que do auge dos seus vinte e poucos achava que podia dar lição de relacionamentos pra mim, uma fedelha recém-ingressa na faculdade, romântica, que usava casaco de aviador ("parece aquele delinquente do james dean", dizia meu pai) e ouvia Starman, do Bowie, encantada pela carinha dele, do mestiço de espanhol com Robert Downey Jr*, aqueles olhinhos. E me rabiscava, rindo, um guardanapo de papel fino, enquanto eu tentava convencê-lo a comer um x qualquer coisa no New Dog pra passar a bebedeira: "Palavras são só palavras". Mas eu sabia que não eram, pelo menos pra ele.

Porque ele nunca chegava e dizia alguma coisa, esse moço: era sempre assim, um jogo. Um jogo de palavras. E foi assim com ele e com tantos outros, e eu no meio do tabuleiro. Sempre fui muito boa nesse jogo, mas nunca gostei tanto de jogar. Eu gostava de competir. E gostava de ganhar, porque sempre ganhava.

Ai, que besteira de criança, que coisa mercuriana, aquele oceano de palavras. Porque as palavras não são pra ser vomitadas, palavras não são armas, não têm gumes.


Palavras são para ser engolidas. Sorvidas, chupadas. Palavras são carícias, amantes.
É isso, crianças. Falem menos (e quando puderem, falem na cara, dêem nome aos bois, ajam com coragem)..., façam mais.

Façam bem mais. É aí que reside a coragem. Falando nos olhos, uma vez, sem se enredar nas palavras-cruzadas emocionais das competições vernáculas. É olhar, falar, da forma mais simples possível, e pronto. O que se diz está dito. Eternizado. E é isso que interessa.

*Haha agora as lembranças me vêm à mente. O nome dele era Reinaldo. Irmão do na época ainda desconhecido Rodolfo García Vazquez, hoje dos Satyros. Alguns anos atrás pude falar com o Rodolfo, perguntei do Reinaldo. Parece que está bem. Emparolado, ainda, talvez. Mas bem.

6 comentários:

@Cajuf_verde disse...

Adorei Lele, e me reconheci, nas duas partes, no que joga sem saber jogar, e no que joga sem gostar do jogo, mas ganhando as vezes.
Me inspirou a agir diferente(ainda não agi)(é algo para daqui a pouco, quando o momento do encontro surgir.)

Bjo, sei que nem lerá, mas adoro suas "expressões", aqui, no twitter, e nas demais midias.

Charles disse...

Parole, parole, parole, parole, parole,
soltanto parole, parole tra noi.

Nina disse...

Tudo o que vc escreve é tão relevante, e tão bonito!
Gosto, muito.

beijo

Eu, Thiago Assis disse...

Quanto mais direto e conciso melhor, então. gostei disso =D

Embora já tenha tido respostas não muito agradáveis por ter sido, digamos, direto demais.
Não sei enrolar.
^^

Anônimo disse...

Lembrou-me de um dos poemas do livro 'Romanceiro da Inconfidência', de Cecília Meirelles, chama-se 'Palavras, que estranha potência a vossa'. É sobre as palavras, assim como o seu texto.

Os signos são lindos mesmo, completos: significantes e significados.

Carol disse...

Adorei! A gente se assusta quando lê algo que parece coma gente.