quarta-feira, 30 de julho de 2008

Dama do Telhado



Valente: Sou eu.
Dama do Telhado: Sei que é você.
Valente: Shhhh. Não fala nada.
Dama do Telhado: Como não falar? Minha vida é falar.
Valente: Por isso mesmo. Deixa a tua "vida" um pouco. Ouve. Vou te contar a história da tua Vida, com vê, com vê maiúsculo, com vê de veia, com vê de verdade. Com vê de você. Você que fala e fala e fala e tira o vê da vida e tudo fica só ida. Um dicionário sem vê, com ida, sem volta. A letra que te falta é a primeira letra do meu nome. Mesmo que eu finja que não sei. Mesmo que eu não saiba.
Dama do Telhado: Não importa.
Valente: Não importa.
Dama do Telhado: E por onde você entrou?
Valente: Pelas venezianas molhadas dos teus olhos.
Dama do Telhado: Eu sempre as fecho, à noite.
Valente: Você sempre as fecha. Em sonho, as abre. Em sonho, eu entro.
Dama do Telhado: Isso é sonho, então?
Valente: Você não distinguiria um sonho da realidade.
Dama do Telhado: Isso é realidade, então?
Valente: Não importa.
Dama do Telhado: Não importa.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Fior


é dos teus olhos que nasceram vários vestígios de sonhos
que se incorporaram nos meus e sonhamos pedaços iguais
- fragmentos gêmeos -
mesmas cores, mesmos cheiros, mesmas letras que tropeçaram
nas escadas e rolaram e me caíram no colo e com elas
eu fiz rima e formei palavras e completei as palavras-cruzadas
por sob a minha pele
com a tinta de polvo dos teus abraços que me tingiam
de azul-escuro, azul-noite, azul-tudo
azul-teus olhos
que se fecharam
e deixaram uma
só uma
palavra incompleta.

*

não sei qual era. e é isso que me mata.



hoje sou sem pontos e sem acentos porque nao tem pontuaçao que finalize ou exclame ou interrogue por mim. sem pontos, aberta, um zero, uma parede a ser escrita, desenhada ou derrubada, place your bets.

eu sempre estive ali às suas costas, no mar de ilhabela, na garupa da sua moto, sobre seu chinelo, e hoje me vejo no espelho, empurrando sua cadeira de rodas. engoli, sem pontos, sem acentos, sem emoção por ora, porque você é e sempre será meu melhor livro, minha gramática, meu dicionário de ilhas e motos e vinhos e cinzas e cheiros. meu pai.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Falando nisso...

...se tem uma coisa que me deixa BEM PUTA é gente que tenta vender gato por lebre. Tipos, nada contra vender gato. Sempre tem quem compre, sabe. Mas foda é tentar passar a perna. SPP, se pegar pegou.

Fui no orkontro da comunidade lá no Caffe Vanilla. Gente, maior roubada do mundo. Tipos, não vão.

Aí que no cardápio tinha "coxa-creme". Todo mundo sabe que coxa-creme é aquela coxinha que vem com um osso dentro, imensa, tipo Flintstones mesmo. Pedi, felizona.

Veio uma coxinha. Do tamanho de uma coxinha. Cheia de... creme.

Oi, malandro é o gato? Porque ok, aí neguinho vem dizer que uai, você dá o nome que você quiser pro produto que você tem. Beleza.

Vou começar a vender pão de milho e batizar de "picanha". Né? Produto é meu, boto o nome que eu quiser.

Francamente.

Eat 'n' Tell

Blog MUITO bom, idéia genial do meu amigo Clayton. Recomendo.

Aqui.

terça-feira, 15 de julho de 2008

sobre.


Da vontade arrastada, estrangulada, amarfanhada dentro do meu corpo que insiste em não brotar asas não importa quantas sementes eu jogue, enterre, adube e regue, ele não se ergue, e ao mesmo tempo não se basta, e raspa e aborta as asas recém-nascidas, com pesticidas em palavras tortas e cor-de-ferrugem. Uma senzala de dentes presos e línguas esparsas que corroem as frases inteiras, e tudo desconexo se esmaga sob as patas do cavalo urgente. Que galopa. Pra longe. Pra lá.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Pólen

Fui acompanhar meu pai à quimioterapia, na sexta-feira, mas só consigo falar disso hoje. Quer dizer, nem falar consigo, mas escrever, talvez um pouco. Não me faltam palavras, nunca. Pra eu não ter palavras, é porque tá difícil.

Ele estava todo feliz, confiante mesmo, até a hora em que ameaçaram internar de novo. Quer dizer, internaram, porque a gente ficou lá no hospital mais de 8 horas. Eu e meu pai. Conversando.

Isso me lembra da manhã da minha vida, lá pelos meus sete anos de idade. A gente nunca conversou, porque meu pai não é de palavras. Pra ele falar, é porque tá difícil.

A gente andava de moto, eu na garupa, abraçada àquele meu pai alemão de camisa pólo, com cheiro de perfume verde. A gente fazia a travessia Ilhabela-ilhota da Praia Grande, eu nas costas do meu pai, agarrada à minha falta de medo. À minha coragem de ser filha de um homem grande, forte, destemido e calado. Meu pai.

Na sexta-feira, no meu outono, caíam folhas e lágrimas escondidas, e as palavras jorravam da boca do meu pai. Ele contou piadas, enquanto lhe injetavam a droga, e falou dos fantasmas que, segundo ele, povoam a sua cabeça e somem na frente do médico. "Bobagem, pai", eu dizia.

E o quarto da quimioterapia era decorado de abelhinhas pintadas. "Eles pensam que eu sou criança", disse ele. A gente riu. E eu me lembrei do chão da cozinha da minha infância, quadriculado, feito colméia preta e amarela, onde eu, brincando de abelha, ia pra baixo da mesa de jantar enquanto meu pai, minha mãe e minhas irmãs comiam frios e bebiam cerveja sobre a mesa redonda. Eu brincava de ísis, de zunido, enquanto as pernas do meu pai balançavam sem parar.

Por que eu estou falando tudo isso? Porque não tenho palavras ao ver meu pai virar pólen. Fabricando fel, a ísis aqui dentro.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Dear Ass

Gostei muito do boxer achei muito fofo, mas estou no Rio, cmo seria o
transporte!?

tenho q pagar por eles? moro com um amigo da faculdade mas as vezes sinto meio q
uma carenciavntade d eter alguem pra brincar hehe, gotaria de tel-lo...

mas ele come muito? muitas despesas?

obrigado desde já!
;)


Ass : Robertão* (*nome fictício, é lógico)

_________________________________________

Caro Robertão,

Come muito. Incrível, né, vindo de um... boxer?

O prato que ele mais gosta é cu de curioso.

Disponha,

Lele Siedschlag

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Eu odeio o Outback

Eu amo comer. E cá pra nós entendo muito bem de comida. Minha mãe é uma cozinheira absurdamente foda, cozinhou profissionalmente inclusive por um tempo, e oi?, ela é italiana, então shut up. Eu sei do que eu estou falando.

Adoro ir a lugares novos, provar temperos, comidas, tenho uma alma gourmet.

Enfim, tudo isso pra falar que o Outback é uma merda. Cara, sério. Como eles conseguem ser tão ruins e tão cheios de filiais? Já tinha ido uma vez à filial do shopping Eldorado e ó, foi ruim demais, saí com a boca quase inflamada de tanto tempero/pimenta/chili sei lá que merda.

Depois de um monte de gente dizer que eu tinha dado azar, ok, fui de novo, agora com a minha filha, na filial do shopping Bourbon. Pedimos uma batata Aussie, que vinha com queijo e bacon. Ok, queijo por cima, grudado nas batatas, e bacon superduro e tostado por todo o prato. Aí pedi uma salada, folhas verdes com cebola, tomate e pepino, que até aí ok, veio honesta. O molho era legal também, uma coisa meio agridoce, com mel e tal. Por via das dúvidas, pedi azeite e sal.

Aí o prato principal: fraldinha. Eu perguntei se tudo o que eles faziam ali era superapimentado, o atendente disse que era, mas que tinha a opção de pedir só no sal. Pedi só no sal, ao ponto. Veio sangrando e... doce. Juro. A fraldinha veio doce. E os legumes ao vapor que a acompanhavam, esquálidos e sociofóbicos, eram duas couve-flores, uma vagem-torta e dois brócolis.

Total? 7o reais. SETENTA FUCKING REAIS.

Gente, sério. Ou eu ganho pouco ou tem muita gente besta nesse mundo.

Essa sexta caiu em cima de mim como um tanque de guerra. Estou acabada, gripada, dolorida... e preocupada. Ainda não consegui um dono legal pra Cyndi. Vou me mudar, ela não vai poder ir, preciso com urgência de ajuda. Não sei mais o que fazer, tem um preconceito idiota contra pit bulls, é o racismo canino. E tem meu boxer, preciso deixar ele com alguém legal também. Estou sem dormir com essa história toda.

Manoel, meu vira-latas pretinho, foi embora hoje. Conseguiu uma casa, uma família legal, fiquei muito feliz por ele. Fiquei com ele um ano, quase. Algumas pessoas se interessaram, mas eu tinha prometido - pra ele e pra mim - que ele só ia pra casa de alguém que tivesse criança. Porque nunca vi um cachorro mais louco por criança.

Agora pra ficar feliz de verdade falta a Cyndi e o Bruno - a red-nose e o boxer. Melhores amigos, um adora o outro. Vamos ver o que o destino reserva pra gente.

alesie@gmail.com