quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Sopra me


Naquela tarde eu te mandei todo o meu amor num beijo sonhado,
E desejei e soprei um vento para levá-lo até você
Ou ao menos um arco-íris invertido, num mundo ao contrário
Em que eu fosse tu por um momento e te sentisse como um eu,
Dentro, fora, cabelos e boca.

A semi-insônia das noites passadas se enraíza
Em olheiras e alguma tristeza: saudades do oceano
De silêncio navegado, do cais em que eu aportei
Por meio dele, e que agora também foi levado para longe
Pelo vento que eu mesma soprei.

Do meu lado esquerdo, dentro, uma cicatriz ensolarada:
A primeira letra do teu nome, roxa pétala amalgamada em sangue,
Areia, vento e água, combatendo bravamente, como tudo que é teu,
A paixão apocalíptica que me embalou pelos braços, recém-(re)nascida,
E sussurrou: "Nada aqui é teu", lullaby em pesadelo.

Ha! Mal sabe ela que eu também amalgamo e permaneço, porque minha raça
é Pietra, e as algas se amarram em meus pés e mesmo que eu quisesse ir sou escrava
desse mar hoje e para sempre, salgada em versos e lágrimas e peixes e espantos
e pedras e nada.

2 comentários:

Tatiana Franey disse...

que arraso mama, que arraso...
morro de saudade sabia? você esquece de mim :(

Barbara disse...

Tanto navegar...
Lindo o seu dizer.
Mas tá assim triste , no mar e no mar sem nada desbravar?
Então tá na hora de aquietar.
Mar laba .
Vento embala.
E o silêncio traz a unidade - que pensas estar em separado e com nome de mar, vento, pesar.
Tudo=.
E sendo mais simples, toma um banho de águas de lavanda.
Cura tudo.
Lindas as palavras.
Abissais e líricas ao mesmo tempo.